sábado, 27 de junho de 2015

Miserável Homem Que Sou!



"Todo crente conhece bem a frustração, a confusão e a dúvida causadas por nosso pecado depois de sermos salvos. Sabemos que temos sido transformados através do poder da obra redentora de Deus. Ele transformou nossa natureza e nos libertou do domínio do pecado e de Satanás. Mas nós nem sempre vivemos na realidade da liberdade. De fato, às vezes, temos a sensação de que ainda somos terríveis pecadores, e de que absolutamente nada foi transformado.

- Exasperação apostólica

Esta agonia oriunda do pecado remanescente é provavelmente melhor descrita pelo apóstolo Paulo em Romanos 7.14-25:

'Sabemos que a lei é espiritual; eu, contudo, não o sou, pois fui vendido como escravo ao pecado. Não entendo o que faço. Pois não faço o que desejo, mas o que odeio. E, se faço o que não desejo, admito que a lei é boa. Neste caso, não sou mais eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim. Sei que nada de bom habita em mim, isto é, em minha carne. Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo. Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim. Assim, encontro esta lei que atua em mim: Quando quero fazer o bem, o mal está junto a mim. Pois, no íntimo do meu ser tenho prazer na lei de Deus; mas vejo outra lei atuando nos membros do meu corpo, guerreando contra a lei da minha mente, tornando-me prisioneiro da lei do pecado que atua em meus membros. Miserável homem eu que sou! Quem me libertará do corpo sujeito a esta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor! De modo que, com a mente, eu próprio sou escravo da lei de Deus; mas, com a carne, da lei do pecado.'

Esta passagem tem atordoado muitos estudiosos e teólogos através da história da Igreja. Estaria Paulo descrevendo a si mesmo antes de Cristo, ou estaria ele falando de uma outra pessoa – talvez alguém com pouquíssima maturidade espiritual, ou um crente ainda preso ao pecado? Ou seria esta passagem uma indicação de que Paulo estava mentalmente instável, enquanto oscilava entre dois posicionamentos contraditórios? Para a mente que não foi iluminada pelo Espírito, provavelmente, esta autodescrição confessional de Paulo não fará sentido algum.

      - Dois passos pra frente, um passo pra trás

Em seu livro 'Evangelho Segundo os Apóstolos', John MacArthur nos ajuda a responder algumas destas questões e a entender o conflito interno descrito por Paulo.

Não se trata de um cristão carnal ou alguém com um baixo padrão de santificação. O uso repetido do pronome pessoal por Paulo neste contexto enfatiza que esta era sua própria experiência. As conjugações verbais mostram que ele não se considerava alguém que já havia passado deste estágio. O conflito que ele descreve aqui era algo que ele conhecia bem – mesmo sendo um cristão maduro. A obra santificadora em seu coração é muito evidente. Ele diz que odeia o pecado (v.15). Ele ama a justiça (vv.19, 21). Ele tem prazer na Lei de Deus com todo o coração (v.22). Ele dá graças a Deus pelo livramento que lhe pertence em Cristo (v.25). Estas são todas reações de um cristão maduro; neste caso, de um apóstolo provado; não de alguém que se debate na agonia de um estado desesperado de carnalidade estabelecida. De fato, esta é a descrição de um homem de Deus cujo pecado ocasional parece algo constante quando posto sobre o pano de fundo de seus santos anseios.
Romanos 7.14-25, então, descreve o lado humano do processo de santificação. Não devemos colocar esta passagem contra Romanos 8, como alguns fazem, imaginando que estes capítulos descrevem dois estados separados do crescimento cristão. Elas, simplesmente, fornecem duas perspectivas diferentes sobre santificação. Romanos 7 é a perspectiva humana; Romanos 8 é a perspectiva divina. Romanos 7 é o próprio testemunho de Paulo de como é viver como alguém controlado pelo Espírito, um crente espiritualmente firmado. Ele amava a santa lei de Deus com todo seu coração, mas se encontrava preso à carne humana e incapaz de cumpri-la [a lei] do jeito que seu coração queria. Acaso existem cristãos, em algum lugar, que são tão espirituais que possam testemunhar uma vida vivida acima deste nível?

Para os crentes, este conflito que o apóstolo descreve é corriqueiramente frequente. Nós sabemos o que é odiar o pecado mesmo quando estamos pecando. Nós reconhecemos a compulsão por retornar aos mesmos pecados de onde o Senhor nos salvou. E nós conseguimos apreciar como as manchas remanescentes de nosso passado pecaminoso nos faz questionar se realmente fomos transformados.

     - Uma fonte improvável de segurança

Mas no meio desta frustração, John MacArthur diz que nós devemos encontrar encorajamento e segurança.

Todos os crentes verdadeiros deveriam estar vivendo precisamente neste nível, encarando a tensão que Paulo descreve entre uma fome crescente por justiça em uma mão e uma sensibilidade crescente ao pecado na outra. Embora o grau de pecado varie, dependendo do nível de maturidade espiritual de alguém, o pecado num crente genuíno deveria sempre fazê-lo ou fazê-la sentir o conflito que Paulo descreve nestes versos.

Numa problemática levemente irônica, a frustração do crente sobre seu pecado e falta de crescimento espiritual é uma forte indicação de que ele está crescendo espiritualmente. De fato, é o crente que não tem este conflito interno que precisa se preocupar.

Embora alguns declarem estar acima de Romanos 7, eles apenas revelam sua própria insensibilidade aos efeitos penetrantes do pecado na carne. Se eles, honestamente, mensurassem a si mesmos ante os padrões de justiça divinos, entenderiam quão longe estão destes. Quanto mais próximos de Deus, mais enxergamos nosso próprio pecado. Só pessoas imaturas, carnais e legalistas conseguem viver debaixo da ilusão de que estão a altura dos padrões de Deus. O nível de consciência espiritual, quebrantamento, contrição, e humildade que caracterizam a pessoa descrita em Romanos 7 são marcas de um crente espiritual e maduro que diante de Deus não tem segurança em sua bondade própria e em suas conquistas.
Então, Romanos 7 não é o clamor de um cristão carnal que não se importa com a justiça, mas o lamento de um filho de Deus que, no auge da maturidade espiritual, e apesar disso, se encontra incapaz de viver à altura do padrão de santidade. Esta é também a experiência de cada crente genuíno a cada etapa do desenvolvimento espiritual.

Precisamos encontrar alívio no fato de que o conflito contra nossa carne é uma indicação de vitória sobre o pecado. Paulo não era um crente ordinário – ele encontrou Cristo face-a-face; ele foi arrebatado para ver as glórias do Céu; ele testemunhou e realizou milagres através do poder do Espírito Santo. Apesar de tudo isso, ele sofria com o pecado e ansiava ser liberto das algemas de sua antiga natureza, implorando, 'quem me livrará do corpo desta morte?!' (Romanos 7.24)
Esta não era uma exclamação desesperada – ele já sabia a resposta; imediatamente identifica seu Salvador: 'Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor!' (Romanos 7:25) A confiança de Paulo não estava em si mesmo ou em sua justiça, mas no triunfo de Deus sobre o pecado, produzindo uma esperança firmada na glória celestial. Ele deixou isso claro poucos parágrafos depois, em Romanos 8:18-19:

'Considero que os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada. A natureza criada aguarda, com grande expectativa, que os filhos de Deus sejam revelados.'

Sua segurança estava enraizada no caráter e nas promessas de Deus, e sabia que o Senhor não abandonaria sua obra transformadora em Seu povo até completa-la. 'Àqueles que justificou, também glorificou.' (Romanos 8:30)
Ele parte do mesmo ponto de segurança em suas epístolas à igreja de Corinto. Ele escreveu: 'Pois é necessário que aquilo que é corruptível se revista de incorruptibilidade, e aquilo que é mortal, se revista de imortalidade. (...) Mas graças a Deus, que nos dá a vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.' (1 Coríntios 15:53,57). 'Pois, enquanto estamos nesta casa, gememos e nos angustiamos, porque não queremos ser despidos, mas revestidos da nossa habitação celestial, para que aquilo que é mortal seja absorvido pela vida.' (2 Coríntios 5:4)
O conflito contra o pecado é uma coisa boa, contanto que o conflito não cesse. É uma batalha pra vida toda, mas como John MacArthur aponta, ela traz consigo frutos significantes.

E a batalha continua. A libertação plena aguarda a glorificação. Vitória aqui e agora só é possível enquanto mortificamos pouco a pouco as obras da carne através do poder do Espírito Santo: 'Assim, façam morrer tudo o que pertence à natureza terrena de vocês: imoralidade sexual, impureza, paixão, desejos maus e a ganância, que é idolatria' (Colossenses 3:5). 'Pois se vocês viverem de acordo com a carne, morrerão; mas, se pelo Espírito fizerem morrer os atos do corpo, viverão' (Romanos 8:13)
Estamos fadados à frustração por não sermos capazes de experimentar o grau de santidade que desejamos. Esta é uma experiência inevitável de cada santo de Deus verdadeiro. Por causa da nossa carne, jamais conseguiremos alcançar o grau de espiritualidade que aspiramos. 'E não só isso, mas nós mesmos, que temos os primeiros frutos do Espírito, gememos interiormente, esperando ansiosamente nossa adoção como filhos, a redenção do nosso corpo' (Romanos 8:23). Mas esta esperança inflama ainda mais nossa aspiração por santidade.

Em 'Evangelho Segundo os Apóstolos', John fecha seu capítulo sobre Romanos 7 mencionando 1ª João 3:2-3. É bom lembrarmos que embora a santidade que almejamos pareça muito distante algumas vezes, ela nunca se faz duvidosa.

'Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser, mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é. Todo aquele que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, assim como ele é puro.'"


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Texto por Jeremiah Johnson
Traduzido do link: http://www.gty.org/blog/B150624/wretched-man-that-i-am

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